Quem chega em Antonina pela primeira vez e sem aviso prévio não imagina que essa cidade paranaense, localizada no litoral do estado, já foi alvo de grande especulação, conhecida por ter um futuro promissor a ponto de atrair investidores e trabalhadores. Mas, depois de circular e conversar com moradores da região, já é possível ter uma pequena noção da dimensão da cidade, que tem a história e a paisagem marcadas até hoje pelas inovações e ruínas da chamada “Era Matarazzo”. O nome indica uma das famílias mais notórias do Brasil, dona do maior complexo industrial da América Latina, segundo dados do Metrópoles. 

A família Matarazzo está presente em Antonina desde 1904, quando chegou à cidade para construir um complexo industrial. Ergueu uma cidade operária, com escolas, moradias para os funcionários, hospitais, um campo de futebol e um porto. As inovações feitas pela família movimentaram o lugar e se tornaram a principal fonte econômica da cidade, alterando também a cultura local. Entretanto, passado o tempo, o cenário mudou.  

Embora o foco de atuação dos Matarazzo hoje seja em São Paulo, a cidade de Antonina reflete em sua atualidade marcas do que um dia foi um império. Observando as construções da cidade com mais atenção, é possível identificar a pegada histórica das modificações feitas pela família. E como isso impacta na vida e na memória dos moradores da cidade.  

Aos 67 anos de idade, o taxista Wanderley Meira, nascido e criado em Antonina, se recorda dos tempos em que as grandes fábricas da família Matarazzo operavam na cidade. Localizado na Av. Conde Matarazzo, número 2489, o chamado Complexo Matarazzo era um conjunto de fábricas que operavam como empacotadora de alimentos, entre eles trigo e açúcar, e de adubo, que vinham de outras regiões do Brasil. As matérias-primas chegavam às fábricas através de dois portos construídos na cidade. Atualmente um dos portos históricos da cidade está desativado, e o outro foi substituído por um privado, o porto Ponta Do Félix S.A.   Desativadas há cerca de quarenta anos, as fábricas que comandavam a economia da cidade àquela época, empregavam também boa parte da população local, conta Wanderley. 

Todos esses bens ainda pertencem à família, e a maior parte dos terrenos se encontram em estado de abandono. A exceção é o complexo de fábricas, que ainda recebe alguma manutenção, mesmo que mínima. A falta de cuidado nos demais imóveis, porém, é facilmente percebida por qualquer um que se aproxima e observa os locais. A maior parte das construções se encontra rodeada de matos, como ruínas, em um terreno com a placa “propriedade privada”.  

Para quem chega de fora, Antonina é vista apenas como mais uma cidade turística, que vive do comércio local e dos visitantes curiosos. O que antes era uma cidade que trazia interesse e movimentava o mercado financeiro da região, hoje é descrita por moradores como um lugar para os aposentados.  

Wanderley é alguém que descreve a cidade, hoje em dia, como “terra dos aposentados”. Segundo ele, a maior parte da população local é empregada nos portos, ou está na fase da aposentadoria, enquanto a parcela mais jovem dos habitantes muitas vezes prefere explorar oportunidades de emprego em cidades próximas, como Paranaguá, ou investir em estudo universitário fora da cidade, uma vez que Antonina não possui oferta de ensino superior. Enquanto isso, uma parte mínima da população decide investir na economia local. Mesmo assim, Antonina vive em situação de “cidade dormitório”. 

O taxista comenta que a economia local é focada nos turistas que a cidade recebe. Estes costumam visitar o local por causa de suas construções históricas e eventos que são realizados ao longo do ano. O festival de blues e a festa da Padroeira da cidade são as comemorações que mais atraem o público. Assim como o verão, que representa a época do ano em que os moradores do local mais trabalham. Fora de temporada, com pouca visitação, o trabalho é escasso. Assim, os antoninenses precisam procurar outra fonte de renda nos poucos empregos da cidade (as fábricas de bala, o porto privado e os pequenos comércios locais). Aqueles que não encontram uma fonte de sustento, costumam praticar a migração pendular, trabalhando em cidades próximas. 

Os moradores de Antonina contam suas histórias e a história da cidade com muita alegria, mas quando falam sobre a situação atual, apesar de carregar um grande afeto, o tom da fala é de pesar. As incertezas com relação ao futuro da cidade aparecem, ainda mais quando tudo o que o governo faz, segundo os relatos, é vangloriar o passado. Nos momentos em que a infraestrutura do local é evidenciada, as perguntas só aumentam. Dizem que a cidade precisa de um cuidado maior para que os seus habitantes possam sobreviver do turismo. 

Outro morador que guarda a história de Antonina é Alcimar Meira Gonçalves. Ele possui uma coletânea de fotos e documentos que recontam a trajetória da cidade litorânea. É graças a esforços como esses que Antonina é uma cidade que respira história. Também os Matarazzo têm sua parcela na nostalgia expressa por alguns moradores.  

Ficha técnica

Repórteres: Ana Clara De Assis Caetano e Heloisa Pagani

Edição: Alana Morzelli e Isadora Kovalczuk

Orientação da produção: José Carlos Fernandes

Orientação da edição: Cândida de Oliveira