A demência atinge majoritariamente a população idosa e “está entre as principais causas de anos de vida perdidos e de anos vividos com incapacidade na população mais velha”, segundo o Relatório Nacional sobre a Demência no Brasil (Renade). Com isso, instituições como a Secretaria de Estado da Saúde do Paraná (Sesa) e a Pastoral da Pessoa Idosa (PPI) têm se mobilizado para alertar a população quanto aos cuidados necessários para as pessoas diagnosticadas com Alzheimer, ou outros tipos da doença.
A Doença de Alzheimer (DA) é o principal tipo de demência e ocorre, segundo o Ministério da Saúde, pela “deterioração cognitiva e da memória, comprometimento progressivo das atividades de vida diária e uma variedade de sintomas neuropsiquiátricos e de alterações comportamentais”. No entanto, muitos profissionais da saúde acreditam que o esquecimento faz parte do processo de envelhecimento e, com isso, a maior parte dos casos não são diagnosticados efetivamente.
A convivência
A demência afeta a rotina de todo o núcleo familiar, visto o comum acompanhamento dos familiares na realização das atividades da pessoa diagnosticada. Com o agravamento dos sintomas, a doença causa mudanças que atingem tanto a pessoa doente quanto àqueles que convivem com o paciente e precisam aprender a lidar com os efeitos da demência.
A mãe de Marli Libralão, dona Irene, é diagnosticada no estágio 4 do Alzheimer, descoberto em estado já avançado durante a pandemia. A doença foi identificada por um familiar, que sugeriu consulta a um neurologista. Segundo a filha, o comportamento varia de acordo com a fase, alternando entre momentos agitados e momentos mais calmos, mas “depende de cada pessoa. [Geralmente] ela é tranquila”.
A doença da mãe demanda cuidados específicos no cotidiano, realizados com o esforço da família. Por conta das dificuldades da doença, Marli comenta a necessidade de alimentação regrada e pastosa, bastante líquido, reposição por suplementos e ajuda nos afazeres diários.
Além dos cuidados em casa, a família conta com a ajuda da Pastoral da Pessoa Idosa (PPI). Em parceria com a Sesa, ela atua na ligação das famílias com os serviços da comunidade, principalmente na promoção das políticas públicas. A partir de visitas domiciliares mensais, os voluntários, chamados de líderes comunitários, são capacitados para irem ao encontro de pessoas idosas fragilizadas e auxiliarem nos cuidados. O acompanhamento do envelhecimento da população por meio da rede de apoio colabora para a realização de levantamentos de dados sobre as doenças.
É por meio das visitas da PPI que familiares de idosos com demência obtêm auxílio na orientação e no apoio. Não sendo aptos a realizar o diagnóstico, os líderes promovem o estímulo de bons hábitos e o direcionamento a determinados serviços de saúde ou assistência social. Coordenadora da PPI, Eva Melnik, da arquidiocese, explica a importância da atividade da pastoral. “A gente leva o conhecimento e a orientação para a pessoa idosa e a família.”
Recomendações
A doença é progressiva e fatal, porém, tais cuidados, junto a um tratamento adequado, podem ajudar a controlar os sintomas e retardar a evolução. Desta forma, é possível manter o bem-estar e uma boa qualidade de vida, tanto da pessoa diagnosticada, como das pessoas mais próximas.
“A doença não tem cura, porém ela tem controle”
Caren Muraro, médica geriatra da Secretaria de Estado da Saúde
Segundo a médica geriatra da divisão de Atenção à Saúde da Pessoa Idosa da Secretaria de Estado da Saúde, Caren Muraro, as pessoas que buscam um Serviço de Saúde para o acompanhamento da doença tendem a ter um cuidado mais fácil. “A doença não tem cura, porém ela tem controle”, ela afirma, “é possível fazer com que a doença não avance rapidamente e a pessoa se mantenha funcional, com menos alterações comportamentais, o que também ajuda no núcleo familiar”.
A médica também comenta a importância do conhecimento sobre o esquecimento como um declínio funcional e o diagnóstico precoce. Além disso, fala da busca pela autonomia e redução de fatores de risco como aspectos que também contribuem para a prevenção de efeitos mais prejudiciais da doença.
As medicações são disponíveis pelo Sistema Único de Saúde (SUS) para todas as fases da doença, por meio do componente especializado da assistência farmacêutica. Além disso, questões de rotina podem ser incorporadas na atenção aos sintomas da pessoa idosa, que incluem atividades de vida diária básicas e instrumentais, atividades físicas, atividades significativas e de lazer, segurança, higiene pessoal e acompanhamento médico. Também é importante que a pessoa que auxilia a pessoa com demência tenha um cuidado pessoal, para que esteja apta a ajudar outra pessoa e compreender a situação.
“O cuidador precisa olhar para si”
Caren Muraro, médica geriatra da Secretaria de Estado da Saúde
Segundo Muraro, para atender e ajudar a um idoso diagnosticado com demência, “o cuidador precisa olhar para si, ter momentos de descanso, de prazer […], sempre dividir o cuidado e ter muita paciência”. Diante das alterações de humor e das necessidades da pessoa com a doença, questões como essa colaboram para que o dia a dia dos cuidados fique mais leve.
Marli afirma que faz exercícios físicos com frequência, sempre vai ao médico e faz terapia. “Eu preciso estar bem para cuidar da minha mãe, para eu dar o meu melhor para ela, com dignidade.”
Ficha técnica
Reportagem: Isadora Dias Kovalczuk
Edição: Alice dos Passos Lima
Orientação: Cândida de Oliveira